sábado, 7 de fevereiro de 2015

sem título

Quando penso em casamento gosto da ideia.
Gosto de pensar nessa coisa de ter pra quem voltar depois de um dia cansativo e ter essa pessoa que acompanhe ininterruptamente todos os meus dias e demais relações. Alguém que se relacione com minhas relações. É simplesmente delicioso ter pra quem voltar. Ter segurança, estabilidade pra mim representa segurança. É sinceramente indescritível a sensação que essa certeza traz. Mas não passa do campo das ideias quando não se acredita na inteireza dessa possibilidade. Essas coisas estão relacionadas à expectativa que se cria.

Toda essa delícia de poder contar com alguém incondicionalmente não seria tão profunda se pudéssemos contar com a pessoa que nos habita. Isso soa tão cliché.. mas quem vive um tipo de dependência sabe como isso funciona. Essa coisa da falta de si.
Mas na verdade, essa ideia de ter em outra pessoa esse porto seguro é uma verdadeira loucura. Principalmente considerando que nada impede que os 'amantes' se deixem e encontrem outros amantes. Essa necessidade do outro que parece tão vital me lembra a relação mãe-filho, onde a mãe amamenta e o filho se alimenta, a mãe veste e o filho esquenta. Por que nos casamos com pessoas que achamos na rua e oferecemos, em regime de fidelidade e lealdade, tudo o que nos resta de vida ? E com essa pessoa escolhida vivemos o ofício de gerar e educar uma criança ?
Olhando pelo prisma lógico da coisa, esse padrão não tem lógica. Estamos orientados e somos educados para DESEJAR nos entregar a uma pessoa e juntos gerar vida cujo vamos sustentar e educar até que tenha capacidade de fazer isso por si própria e repetir o padrão que repetimos. Por que sem isso a vida parece sem sentido ? Por que pessoas que optam por viver só parecem tão repulsivas ?
Quando penso a fundo nessas coisas vou à raiz do ser, à infância e suas primeiras relações: pai e mãe, onde procuro justificar que essa plenitude com si próprio com  deriva de também de educação. O que é paradoxal se pensarmos que quem recebe amor, terá amor pra dar. Se eu receber amor de meus pais posso tomá-lo e passar o resto da vida dedicando a mim mesma ?
Enfim.. então eu penso que essa busca incessante por companhia, reconhecimento, atenção e talvez um pseudo amor, seja por não ter recebido o suficiente..
Bom.. é assim que me sinto. Me sinto abandonada emocionalmente desde criança, considero minha educação rígida e me tornei defensiva (vulgo agressiva). Quando reconheci em mim uma máscara de defesa foi mais fácil decidir quando usar ou não. Como se eu não fosse escrava dos meus mecanismos de defesa.
Nem o que espero de alguém hoje, nessa circunstância, não vai me bastar. Por que não quero o outro. Quero eu.
Se me falta doçura é o que eu desejo receber do outro. Se me falta atenção é o que eu desejo receber do outro. Eu não desejo o outro. Isso é duro e injusto com o outro. Cansativo. Até que no final ganho por W.O.
Isso é ganhar ?
Por diversas vezes me peguei sendo profundamente injusta, a cobrar que o 'escolhido' (vulgo amor) me oferecesse exatamente o que eu preciso. Foge do meu controle. Quando vi já foi. Já manipulei situações para receber provas de amor pra me sentir querida, bem quista. Às vezes, beirando a crueldade, abalo a auto estima do outro, que chamo de amor, para receber em troca a dependência. Aquela de que tanto sofro. Logo mais, me sinto tão profundamente culpada por usar de um recurso tão baixo pra obter o que desejo. Quero parar.. mas quando emerge a necessidade tudo muda.
Assim perco a oportunidade de amar verdadeiramente homens maravilhosos, excepcionalmente fantásticos, exemplos de caráter, boa vontade, amorosidade, disposição, honestidade, humildade, doçura, hombridade e diversos outros, por não desejar o que me oferecem. Eu quero menos.
Quero só o que não podem me dar: a alma.
Alma em forma de serviço. Me reconheço primitiva, assim.
Quando falo de amor sinto um ar de ternura e honradez ao sentimento que tenho em relação ao outro, e que só presta enquanto me servir. Já dizia o velho bêbado Bukowski que amor é interesse. Essa é uma das obviedades mais verdadeiras e chulas que já tiveram a ousadia de dizer. É tabu falar mal daquilo que parece amor.
Amor é aquilo que sente quando se admira* e se vê a utilidade* de alguém na nossa vida ?
Acho nem 90% do que chamamos de amor, realmente é. Falo das minhas estatísticas, claro, eu que amei profundamente mais de dez vezes até minha atual primavera de 24 anos. Eu não duvido do que senti.. Se alimentaram minha dependência eu realmente amei. Caso contrário era sexo casual.
O que te leva a se unir com alguém ?

Admiração: 

1. ato de admirar
2. admiração, espanto, surpresa, deslumbramento
3. afeição, simpatia, respeito

Utilidade:

1. serventia, vantagem, proveito

Nenhum comentário:

Postar um comentário