terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Bukowskiano.




Esses dias na internet li um testículo desses melosos e chatinhos que passava uma mensagem mais ou menos assim:
'' O garoto perfeito não precisa ler meus pensamentos;
não precisa saber meus sabores preferidos;
nem perceber cada vez que corto as pontinhas do meu cabelo;
Não precisa ter carrão, ler Bukowski e nem ser o mais inteligente da escola.
Basta me aceitar como eu sou. Complicada e perfeitinha "

Meu primeiro pensamento foi 'ainda bem que não tenho nada na barriga agora'.

Vou iniciar essa espécie de protesto expondo minha #&¨%$.
A minha pergunta/afirmação é:
Essa garota já leu algum meio poema de Bukowski sequer ?
E já tomo a liberdade de dizer que NÃO !

Não precisa ter grande intimidade com seus textos para saber o quanto sua literatura é suja, negativa, pessimista, depressiva, erótica, depravada, esculachada, escrachada, debochada, irônica, invasiva, incoveniente e descreve a pura desilusão que é viver.
Essa merda toda é pra quem se identifica.
Não é pra qualquer um. Ninguém simplesmente se envolve com infernos por achar divertido ou atraente. Não é mera novidade. Digo 'envolvimento' como aquilo que te desperta algo e te atrai, te puxa sutilmente pra perto.
É assim com as vibrações do submundo. Vibração é vínculo. Ninguém se vincula ao obscuro sem conhecer dores e pecados de bem perto. É submissão, uma espécie de entrega. Entende ?
Certas coisas só servem pra quem sofre. Dor não vira moda. Esse é um padrão de que apenas se foge, não se busca.
Ninguém veste a camisa da desgraça por que todos estão usando. Achar por aí (dentre todos esses lixos que vagam pela internet) um nome de dificil escrita é bem atrativo, realmente, pra passar uma impressão intelectual que não existe. Falar de Bukowski não é como falar de Clarice Lispector e Caio F. de Abreu (tidos como abusadinhos e irreverentes).

Quem se identifica (no sentido de se incluir, se dar como pertencente) ao submundo, ao sombrio, ao desamparo, desestímulo, desespero, desamor, ao oculto, ao desprezo, descaso, esquecimento, solidão, descuido, esquecimento, abandono, derrota, perda de si, à perda de consciência e à deriva da vida. Á derrota, frustração, carência, melancolia, raiva, fuga e promiscuidade.. não se dá ao luxo de escolher o autor que vai ler.
Quem se entrega à infelicidade e abusa de todo seu amplo poder, não se dá ao luxo de escolher o tipo de porcaria que gosta de ler.

Te apeteces do que te pertence. Desde quando se escolhe do que se gosta ?

Ler é uma atividade que demanda entrega mútua. O autor te oferece suas experiências e sentimentos. Você recebe suas experiências com todo seu sentimento. Isso só acontece porque de alguma forma o que ele te deu já é seu.
Pra ser honesta eu me senti bem invadida pela ignorância da autora desse textinho. Meu inferno particular foi banalizado.



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